Festival A Porta acontece no bairro dos Capuchos

A edição de 2024 abre novas portas no local onde, há exatamente 372 anos, foi colocada a primeira pedra do que viria a ser o Convento de Santo António dos Capuchos

O Festival A Porta 2024, que decorre de 9 a 16 de junho, vai realizar-se nas ruínas do Convento de Santo António dos Capuchos.

Em oito edições de festival foram abertas “1001 portas” em diferentes zonas da cidade — a rua Direita, a antiga Pousada da Juventude, o Edifício EDP ou a Villa Portela — procurando sempre responder aos diferentes desafios colocados pelo território urbano e pela sua ocupação.

Segundo Miguel Ferraz, Diretor do Festival, “a missão que este festival assume desde 2014 é abrir novas portas em Leiria, promovendo o diálogo entre as comunidades locais e o território que ocupam e apelando ao pensamento e à participação cívica. Este ano escolhemos um local que está em estado de abandono há décadas e vamos criar condições para que a população possa visitá-lo em segurança e conhecer um pouco mais sobre a sua história. Estamos a falar de um monumento a caminho dos 400 anos, que deu nome a um dos bairros mais ilustres da cidade e que faz parte da memória de tantos leirienses”, explica.

Uma coincidência feliz

O Festival A Porta decidiu anunciar esta semana a localização da sua 9.ª edição na expectativa de chamar à atenção para uma coincidência inspiradora. Foi a 8 de abril, há 372 anos, que foi colocada a primeira pedra do Convento de Santo António dos Capuchos. É também a 8 de abril de 2024 que acontece um eclipse solar, tal como sucedeu a 8 de abril de 1652.

Segundo Rute Xavier Guerreiro, especialista em Conservação e Restauro, que publicou em 2015 o livro O Convento de Santo António dos Capuchos de Leiria – Contributos para a sua História“em 8 de abril de 1652, dia dedicado a Nossa Senhora dos Prazeres, foi colocada a primeira pedra, pelo deão da Sé, Simão da Rosa Guerra, possivelmente parente do padroeiro”.

Já segundo o relato de Frei de Jesus Maria, publicado em 1737, organizou-se uma Procissão para levar a pedra fundamental, sendo o acontecimento marcado com a ocorrência de um eclipse: “ao tempo, que caminhava a Procissão, se eclipsou o Sol, e durou o eclipse por grande espaço de tempo”.

Ao partilhar esta história, o Festival pretende convidar as comunidades envolventes a conhecerem e celebrarem a história do local e, se possível, a contribuírem para a conversa sobre o seu futuro.

Com uma programação muito diversa, entre concertos, workshops, instalações, exposições, debates, residências artísticas, atividades criativas infanto-juvenis, jantares temáticos, almoços comunitários e feiras de autor, o festival oferece atividades destinadas a toda a família.

Miguel Ferraz assume que a equipa está atenta ao facto de os Capuchos serem um bairro residencial e tranquilo: “Tanto na programação como na produção do festival, estamos a tentar minimizar o impacto que a nossa intervenção possa ter nos dias do festival, ao nível de ruído e do respeito pelo quotidiano das pessoas. Queremos, antes de mais, que a população residente faça parte deste momento e, por isso, estamos em contacto com os moradores e comerciantes. No passado fim de semana realizámos um encontro no bairro, do qual saíram várias sugestões úteis”.

As múltiplas vidas de um convento

Ao longo dos séculos, o edifício do qual apenas restam algumas paredes alojou um convento e um hospital militar, tendo sido alvo de ataques, incêndios, ocupações e múltiplas intervenções de recuperação ou adaptação. Pertenceu ao clero, ao Estado, à Câmara Municipal e novamente ao Estado. Há mais de 80 anos que está oficialmente desocupado e em estado de abandono, quando o Ministério da Defesa deixou de o utilizar como hospital militar e armazém.

O imóvel foi classificado como de Interesse Público em 1982. Já em 2019, o Estado assinou um contrato de concessão por 50 anos com um grupo privado, para que seja construído um hotel onde hoje existem ruínas. O contrato foi realizado no âmbito do programa Revive, através do qual o Estado propõe dar uma segunda vida a património cultural e histórico que se encontra nas suas mãos e que está devoluto, através da concessão dos imóveis a privados para o desenvolvimento de projetos turísticos. Este contrato prevê, entre outras coisas, a salvaguarda do monumento e que diversas áreas (jardim, capela, centro interpretativo, etc.) permaneçam acessíveis ao público em geral, e não apenas aos clientes do hotel. 

Segundo Miguel Ferraz, “o Festival sente a responsabilidade de continuar a abrir portas, regenerar, querer mais e melhor para Leiria. Por isso, independentemente dos futuros projetos para o antigo Convento dos Capuchos, esta é uma oportunidade única para, na edição de 2024, abrir portas há muito fechadas no bairro e promover a sua valorização e do seu património histórico e cultural”.

 

Festival A Porta

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