A morte em tempos de pandemia

Coronavirus. O vírus que sacrifica dezenas de vidas diariamente e que não dá lugar ao luto no seio das famílias portuguesas.

Com o número de mortos diagnosticados por covid-19 a aumentar, as agências funerárias mantêm a sua atividade e intensificam os cuidados de proteção. Porque as cerimónias fúnebres enfrentam agora uma nova realidade. Como mudou a forma como os portugueses se despedem dos seus entes queridos? É esta questão que agora se coloca.

Velórios sem missas e funerais breves. O último adeus, com o caixão fechado, é dado por um máximo de dez pessoas, todas cumprindo o distanciamento social e sem poderem aproximar-se da sepultura ou do crematório . O i foi acompanhar uma dessas cerimónias.

Uma profunda e dura mudança, que contrasta em tudo com as tradições da cultura portuguesa.

A verdade é que não há maneira de fazer o último adeus noutras condições. O decreto de lei que regulamenta o novo período de estado de emergência, promulgado no passado dia 3 de abril, não deixa margem para dúvidas: “A realização de funerais está condicionada à adoção de medidas organizacionais que garantam a inexistência de aglomerados de pessoas e o controlo das distâncias de segurança, designadamente a fixação de um limite máximo de presenças, a determinar pela autarquia local que exerça os poderes de gestão do respetivo cemitério”.

Face às novas medidas, as próprias agências funerárias são recomendadas a agir segundo as mais estritas normas de segurança e de modo a evitar o risco de contágio.

Exemplo disto mesmo é-nos dado por Artur Palma, proprietário da funerária Velhinho, na Amadora, que nos conta como é estar na linha da frente perante uma morte de covid-19.

O dia começa cedo, o medo é muito e os cuidados são ainda maiores. Três horas antes da cerimónia, os funcionários destacados chegam ao armazém para se desinfetarem e equiparem com fato de proteção especial, luvas, máscara cirúrgica e óculos. O caixão é desembalado e a carrinha funerária é preparada para seguir para o Instituto de Medicina Legal.

Afonso e Tiago, ambos funcionários da agência, encarregam-se da recolha do cadáver previamente preparado e colocado num saco impermeável. Cuidadosamente, num corredor vazio, o caixão é fechado e selado com papel aderente.

Já no cemitério, e sem cortejo, a um ritmo acelerado, a pandemia obriga a uma fria despedida entre choro e agonia, revolta e saudade, de quem se viu impedido de prestar a devida e última homenagem.

 

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