Única maneira de Carlos Silva ficar na história do sindicalismo é dando um “murro na mesa”, afirma Carlos César

São questões “político-sindicais” e não pessoais as que levaram Carlos Silva a anunciar que deixará a liderança da UGT no próximo congresso da central sindical em Abril de 2021.

O atual presidente do Partido Socialista fez das palavras de Carlos Silva as suas ao afirmar que a única forma do líder da União Geral de Trabalhadores (UGT) ficar na história do sindicalismo “talvez seja” dando “um murro na mesa”.

As declarações foram feitas durante uma entrevista, esta terça-feira, ao programa da rádio “TSF”, ‘Almoços Grátis’, numa altura em que se discute o afastamento do partido dos sindicatos, uma das razões que terá motivado a saída de Paulo Pedroso do partido.

Questionado sobre este alegado afastamento, o dirigente socialista adianta que “não é verdade que o Governo do PS dê mais atenção às empresas do que aos trabalhadores”.

“As organizações patronais, por exemplo, queixam-se do inverso. O que nós temos consciência é que trabalhadores e empresas dependem uns dos outros e devemos pensar que o sucesso de uns e de outros é algo que deve ser inseparável”, garantiu no programa de rádio.

São questões “político-sindicais” e não pessoais as que levaram Carlos Silva a anunciar que deixará a liderança da UGT no próximo congresso da central sindical em Abril de 2021. Carlos Silva fez saber, no domingo passado numa entrevista ao Porto Canal, que não será candidato a um terceiro mandato, dizendo sentir-se desiludido com o Governo. “Se me vou embora é porque estou amargurado com o comportamento do PS em relação ao movimento sindical. Eu não tenho quaisquer razões para continuar neste combate. Não atiro a toalha ao chão e cumpro o meu mandato até ao fim, mas não me calo e não me vou embora sem dar um murro na mesa”, afirmou o atual líder da UGT ao jornal “Público”.

Também João Proença lamenta que Costa não trave mal-estar com sindicalistas do PS

O histórico líder da UGT entrou na polémica entre o primeiro-ministro e os dirigentes da central sindical socialista. E pede a Costa que convoque uma reunião da tendência sindical do PS para acabar com o “mal estar” reinante e que é “muito mau para a democracia em Portugal e para a concretização do projeto socialista”. A guerra que estalou nas hostes do PS é “lamentável”, afirma João Proença.

Lamentável”, diz João Proença sobre a polémica pública que, nos últimos dias, tem vindo em crescendo e envolve o líder da UGT, Carlos Silva, o presidente do PS, Carlos César, e António Costa. O histórico sindicalista assume que há um “mal-estar” resultante de “uma diferença de posições” entre Carlos Silva e António Costa, mas sublinha que “é fundamental que as relações institucionais prossigam”, porque “a UGT é uma grande central sindical e os seus sindicalistas não podem ser menorizados”.

“O mal estar entre o secretário geral da UGT e o Governo é clara. Existe e isso é muito mau para a democracia em Portugal e para a afirmação do projeto socialista”, diz João Proença ao Expresso. Carlos Silva acusou publicamente o Governo de “ostracizar” a UGT e lamentou não ter o “apoio e compreensão necessários” por parte do PS. Em entrevista, esta quarta-feira, ao Público prometeu mesmo ir-se embora, não sem antes dar um “murro na mesa”. Em resposta, Carlos César disse que esta seria “a única maneira de Carlos Silva ficar na história do sindicalismo”.

O clima de tensão é “lamentável”, assume João Proença, que explica a situação pelo facto de António Costa e Carlos Silva terem “diferenças de posições”, tanto sobre a geringonça como sobre a própria direção do partido. Carlos Silva apoiou António José Seguro na sua disputa da liderança do PS com António Costa e, segundo João Proença, o atual primeiro-ministro “marginalizou demasiado as pessoas que apoiaram Seguro”.

Para o histórico dirigente da UGT (que liderou a central sindical durante 18 anos), “as relações institucionais não podem ser prejudicadas por diferenças pessoais, nem os sindicalistas podem ser menorizados”. “A UGT é uma grande central sindical que deve ser respeitada como tal e que vive da independência face aos poderes políticos”, conclui.

“Lamento que o secretário geral do PS não convoque uma reunião da tendência sindical socialista para discutir esta situação”, diz ao Expresso, apelando a uma intervenção direta de António Costa para travar uma escalada da tensão interna. “Esta pode ser uma guerra passageira e ultrapassável”, diz João Proença.

UGT prefere solução negociada do que imposta pelo parlamento

O secretário-geral da UGT defendeu hoje que tem de haver uma “solução à vista” para as carreiras especiais da administração publica, considerando que seria preferível que esta fosse negociada entre sindicatos e Governo do que imposta pelo parlamento.

 

No final de reuniões com o PS e PSD, na Assembleia da República, a poucos dias da votação final global do Orçamento do Estado, Carlos Silva manifestou a preocupação da UGT por não haver “uma solução clara e inequívoca” da parte do Governo quanto à contabilização do tempo de serviço das carreiras especiais da administração pública, em que se incluem os professores.

“Não podemos continuar a entrar em 2019 sem uma solução à vista, preferíamos que não houvesse imposições”, defendeu, em declarações à Lusa.

Carlos Silva referia-se às várias propostas de alteração ao OE 2019 que, no caso de BE e PCP, incluem uma calendarização para a contagem do tempo integral de serviço, caso não seja alcançado um acordo entre Governo e sindicatos. Já PSD e CDS propõem normas que retomam o que foi aprovado no orçamento de 2018 e forçam o executivo a voltar à mesa das negociações.

“Esta eventual imposição do parlamento é uma resposta à imposição unilateral do Governo. Não é por aí que gostamos de ir, mas se não houver outra solução…”, afirmou.

Nem os representantes do PS nem do PSD prestaram declarações no final das reuniões com a UGT, mas Carlos Silva adiantou que recebeu da parte do presidente socialista, Carlos César, o compromisso de “analisar” esta questão.

“O PS tem a preocupação dos constrangimentos orçamentais, mas reconhece que houve uma recomendação no ano anterior. O grupo parlamentar irá analisar de que ponto poderá intervir, há esse compromisso do presidente Carlos César no sentido de perceber até onde podemos ir. É um ponto de interrogação”, resumiu.

Já da parte do PSD, disse, houve “o reconhecimento de que esse tempo deve ser contado”, embora com “responsabilidade de se perceber que impacto terá no orçamento”, o que Carlos Silva considerou uma posição próxima da UGT.

“A contagem do tempo que as pessoas trabalham é uma questão de justiça e de legalidade. Se é pago em cinco, seis ou sete anos, é uma questão que deve ser discutida à mesa com os sindicatos e não tem havido vontade política”, lamentou Carlos Silva, que já teve reuniões recentes com PCP e CDS sobre a temática do orçamento.

Em matéria fiscal, Carlos Silva salientou que a UGT entende que “deveria ser introduzido mais um escalão no IRS e mexidas as taxas deste imposto, embora o Governo já tenha manifestado a sua indisponibilidade”.

“Tanto se acusou o Governo anterior [PSD/CDS-PP] de invocar o cumprimento escrupuloso dos compromissos internacionais, mas agora estamos na mesma. Deveria haver mais sensibilidade social da parte do atual Governo, adotando uma maior progressividade naquilo que é uma carga fiscal tremenda que afeta os portugueses, sobretudo os cidadãos da classe média”.

Nestas declarações à agência Lusa, o secretário-geral da UGT manifestou também preocupação em relação à política para o interior do país – questionando “onde está a alocução de recursos financeiros e humanos para se investir e quais os benefícios inequívocos que se concedem às empresas”-, mas, igualmente, em relação aos fundos europeus destinados à formação profissional no próximo quadro comunitário de apoio

“Preocupa-nos os ventos desfavoráveis de Bruxelas, que poderão reduzir esses fundos na ordem dos milhares de milhões de euros”, advertiu.

Já no que respeita à evolução do salário mínimo em Portugal, Carlos Silva deixou várias críticas ao Bloco de Esquerda por ter incluído essa matéria, com valores específicos em termos de aumento, no acordo para a viabilização do Governo minoritário socialista celebrado em novembro de 2015.

Segundo o secretário-geral da UGT, esse acordo então negociado pelo Bloco de Esquerda com o PS está agora “a condicionar” a evolução do valor do salário mínimo.

“Se calhar, sem acordo, o salário mínimo poderia ir além dos 600 euros. Temos de conseguir ultrapassar este constrangimento. O Bloco de Esquerda quis criar uma bandeira do salário mínimo, que não é a sua e que sempre foi do movimento sindical”, acusou.

O secretário-geral da UGT defendeu por isso que “é preciso ir além dos acordos partidários” em matéria de salário mínimo.

“O Governo já disse que sim, desde que haja entendimento entre os parceiros sociais. É nosso que estamos a apostar”, acrescentou.

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