Não foram encontradas marcas de abusos sexuais no corpo de Valentina

Pai e madrasta alegam que criança foi maltratada na sequência da confissão de alegados encontros sexuais com um suposto "padrinho". O Ministério Público vai investigar, mas desconfia da veracidade da história. Primeiro relatório de autópsia não detetou sinais de violência sexual

Segundo a revista “VISÃO”, dos exames médicos ao corpo de Valentina, a criança de 9 anos que terá sido assassinada pelo próprio pai, em Atouguia da Baleia, Peniche, no passado dia 6 de maio, não encontraram marcas de abusos sexuais no corpo da menina. Embora esse dado não tenha validade por si só, complementa a desconfiança da investigação de que a história contada pelo pai e pela madrasta – de que Valentina terá morrido na sequência de maus-tratos do progenitor depois de a criança ter confessado que tinha encontros sexuais com um homem que tratava por “padrinho” – terá sido “algo ficcionada” como forma de tentarem arranjar uma desculpa para atenuar a culpa no crime, diz fonte da investigação à VISÃO.

A Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público desconfiam que Sandro e Márcia, pai e madrasta, inventaram essa tese para de alguma forma justificarem o episódio de violência na casa de banho do sótão onde viviam – e que viria a causar a morte de Valentina umas horas depois – primeiro junto da opinião pública e, mais tarde, em julgamento, para tentarem reduzir a culpa e, consequentemente, a pena a que deverão ser condenados.

Ainda assim, e apesar de até ao momento nada corroborar essa versão, quer nos exames médicos quer nas declarações das pessoas que foram ouvidas até ao momento pela investigação, essas suspeitas serão na mesma investigadas pelo Ministério Público – entidade que é “obrigada” a investigar sempre que há notícia de um crime. Neste caso, teriam sido o pai e a madrasta de Valentina a denunciar que antes das agressões físicas e do homicídio, a menina teria sido vítima de violência sexual, alegadamente no Bombarral, onde vivia com a mãe.

Recorde-se que o juiz de instrução que decidiu colocar Sandro e Márcia em prisão preventiva concluiu que Valentina já teria sido maltratada fisicamente pelo pai logo no início de maio e que na quarta-feira, 6 de maio, pela manhã, terá sido de novo agredida na banheira, primeiro com água quente, e depois com bofetadas de força desproporcional ao seu tamanho, que lhe causaram lesões que viriam a ser fatais. E fatais porque Sandro e Márcia, de 32 e 38 anos, não terão procurado ajuda médica quando a criança começou a sofrer convulsões. PJ e Ministério Público acreditam que a criança poderia ter sido salva se o pai e/ou a madrasta tivessem pedido socorro assim que perceberam que não estava bem. Em vez disso, terão saído de casa para fazer compras, deixando Valentina durante horas no sofá, onde terá acabado por morrer.

À noite, terão ido de carro para a Serra d’el Rei, a meia dúzia de quilómetros da casa onde viviam, e ali terão deixado o corpo de Valentina tapado por arbustos. Na manhã seguinte, quinta-feira, Sandro deslocou-se à PSP, e mais à tarde à GNR, para dar início à história que iria contar durante dias: que acordou e Valentina já não estava em casa. Até que no domingo, pela manhã, o pai acabaria por levar os agentes da Polícia Judiciária ao local da Serra d’el Rei onde tinha deixado o corpo. Nessa altura, a PJ ainda não descartava que a morte pudesse ter sido acidental – embora com a agravante da ocultação do corpo e da invenção da tese de desaparecimento -, mas bastaram umas horas para os investigadores concluírem que um simples acidente não justificava uma morte com tamanha violência.

Valentina teria mesmo pavor de água quente

Enquanto esperava pelos resultados do relatório preliminar da autópsia ao corpo de Valentina, a investigação ouviu, logo na segunda-feira, o filho mais velho de Márcia, com 12 anos, que estaria em casa quando tudo aconteceu e terá ouvido os gritos da criança na casa de banho. Esse depoimento registado para memória futura (o rapaz não terá de voltar a ser ouvido em tribunal), e os primeiros resultados da autópsia, foram fundamentais para os interrogatórios a Márcia e a Sandro, logo na terça-feira.

Quando decidiu colocar pai e madrasta em prisão preventiva, o juiz de instrução criminal descreveu um cenário de tremenda violência na casa onde viviam, que incluía tortura com água quente na banheira. Ao que a VISÃO averiguou, Valentina teria mesmo pânico de água quente – ainda está a ser investigado se foram episódios antigos de violência a causar esse trauma. Os sinais de banho com água a escaldar não foram para já detetados no primeiro relatório de autópsia, o que leva os investigadores a acreditar que Valentina terá sido sujeita a esses “escaldões”, sim, mas que estes não terão sido prolongados, pois não causaram lesões aparentes na pele. Ainda assim, este primeiro relatório de autópsia é apenas preliminar, tendo ainda de ser complementado com os resultados de outros exames médicos mais detalhados, que ajudarão a esclarecer mais em detalhe as circunstâncias da morte.

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