Governo vai dar até 4800 euros a quem se mude para o interior

A única obrigação é ter um contrato de trabalho na região.

Executivo lançou esta segunda-feira (dia 3 de Fevereiro) o programa “Trabalhar no Interior”, que quer financiar até 4.827 euros os trabalhadores que decidam mudar-se para o interior do país.

O Governo vai abrir uma linha de financiamento para apoiar quem quiser ir viver para o interior do país. O Programa “Trabalhar no Interior” foi apresentado esta segunda-feira pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, durante um fórum em Bragança. O programa inclui a medida Emprego Interior MAIS, que disponibilizará um financiamento inicial de até 4.827 euros para os trabalhadores que decidam mudar-se para o interior do país.

O programa “Trabalhar no Interior” inclui incentivos de contratação para empresas, medidas de apoio ao regresso dos emigrantes e ainda projetos de incentivo às redes mais acessíveis para habitar no interior. Os estágios profissionais que se realizem no interior terão uma majoração de 10 pontos percentuais na comparticipação da bolsa pelo IEFP, bem como a majoração em 20% do prémio-emprego (conversão do contrato de estágio em contrato sem termo). A nível da formação profissional, o Governo vai abrir 13 Centros Qualifica, e serão flexibilizadas as regras relativas ao número mínimo de alunos por curso.

Para incentivar o regresso dos imigrantes, o programa “Trabalhar no Interior” beneficia igualmente da medida de apoio ao regresso de emigrantes, prevista no âmbito do Programa “Regressar”, através de uma majoração de 25% para os emigrantes que regressem ao país e decidam fixar-se no interior, assinala ainda o Ministério em comunicado.

Para os trabalhares que decidam mudar-se para o interior, o Governo promete ainda ajudar na habitação, através do programa “Habitar no Interior”. O objetivo é apoiar o desenvolvimento de redes de apoio locais e regionais para a divulgação e implementação do “Chave na Mão”. Para o efeito, será criada uma rede que integra as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) e os respetivos municípios.

Também esta segunda-feira, o Governo apresentou o +CO3S – constituir, concretizar e consolidar sinergias e oportunidades, um conjunto de programas transversais e multissetoriais dedicados a empresas, entidades da economia social e entidades do sistema científico e tecnológico. Nesta primeira fase, o +CO3SO vai disponibilizar uma verba de 426 milhões de euros, com um impacto estimado de 665 milhões de euros de investimento e a criação direta de cerca de 4.200 postos de trabalho.

O +CO3S tem várias modalidades complementares, dedicadas ao emprego, competitividade, conhecimento e digital. O +CO3SO Emprego visa apoiar o emprego e o empreendedorismo, incluindo o empreendedorismo social, através do apoio à criação de postos de trabalho em PME e entidades da economia social. Para isso, serão mobilizados 240 milhões de euros de fundos europeus, mais de metade dos quais para territórios do interior, e pretende-se criar mais de 3.800 novos postos de trabalho.

Na área da competitividade, o +CO3SO Competitividade quer captar investimentos exclusivamente para o interior, com um conjunto de avisos de concurso lançados pela primeira vez em simultâneo e em contínuo até metade do ano. Com este programa, o Governo prevê criar 424 postos de trabalho.

O +CO3SO Conhecimento quer ajudar as empresas a aumentar o valor das suas atividades, através da cocriação de conhecimento, inovação e valor na economia local, para se tornarem mais competitivas no futuro. O +CO3SO Digital quer ajudar a modernizar e a tornar mais eficientes os setores agroalimentar, da saúde, turismo, automóvel, com a ajuda das novas tecnologias. Estes dois programas vão mobilizar 50,5 milhões de euros, num investimento total de 76 milhões de euros, prevendo-se a criação de 424 postos de trabalho.

Nota:

Os concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Pedrogão Grande e Pampilhosa da Serra, poderão ser uma oportunidade para trabalhadores na procura de emprego, sendo em colaboração com os municípios colocada uma “bolsa de emprego” no site www.radiosaomiguel.pt para consulta dos possíveis interessados.

Associação das vítimas de Pedrógão critica programa do Governo para o interior: “Atrai-se as pessoas e depois elas vivem de quê?”

Dina Duarte diz que falta emprego e serviços básicos e que ninguém se mudará para territórios de baixa densidade sem outras condições de vida. Não basta, explica, o “aceno de uma quimera”

A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) está muito cética em relação à linha de financiamento que o Governo vai criar para apoiar quem quiser ir viver para o interior do País. Em declarações à VISÃO a propósito do programa “Trabalhar no Interior”, apresentado pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, na segunda-feira, em Bragança, Dina Duarte questiona: “Atrai-se as pessoas com aquele dinheiro, com quatro mil e tal euros, e depois elas vivem de quê?”

Na base da interrogação da recém-eleita líder da AVIPG está a intenção do Executivo chefiado por António Costa de incluir nesse pacote de incentivos a medida “Emprego Interior Mais”, que poderá disponibilizar um montante inicial até 4827 euros aos trabalhadores que se mudem para o interior.

Sem desconsiderar as restantes ideias que constam do programa e vincando que “as pessoas são bem-vindas”, a sucessora de Nádia Piazza sublinha que ninguém mudará de vida apenas com base “num aceno de uma quimera”. Isto porque, enfatiza, são “necessárias condições”, essencialmente “bens e serviços”, para que o projeto não seja apenas uma intenção.

“Se não houver emprego, ninguém se aguenta muito tempo no interior. Ou se vem por amor ou não se consegue ficar. Não pode ser amor e uma cabana”, observa, recordando que na grande maioria dos concelhos que foram vítimas do êxodo rural a maior fatia das ofertas de trabalho está nos setores agrícola e florestal. “Alguém vem para o interior para ganhar o salário mínimo, que é o que se costuma pagar nessas áreas?”, pergunta.

“Quando a senhora ministra diz que deve haver formação na área digital, eu entendo a posição como válida. Mas se isso não tiver como consequência que as pessoas possam pôr em prática esses conhecimentos de que lhes vale a formação?”, prossegue, lembrando que nos municípios mais afetados pelos fogos de 2017 existe um rol imenso de problemas por solucionar.

“Temos um boom de pessoas no verão, mas não temos médicos suficientes. Continuamos com problemas nas comunicações desde os incêndios. Estou a falar consigo desde a aldeia de Bolo, em Castanheira de Pera, na rua, debaixo de uma nogueira, para conseguir ter rede”, ilustra Dina Duarte, falando em nome das populações dos três municípios (Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos) mais castigados pelos incêndios que deflagraram de 17 de junho de 2017, que vitimaram 66 pessoas e feriram outras 254.

A exceção à falta de atratividade dos territórios de baixa densidade, nota, ainda assim, está na “dignidade” dos transportes escolares que as autarquias disponibilizam. Além, aponta, “das atividades de tempos livres”, “tudo a custo zero”. “Essas são as grandes mais-valias para os pais que queiram uma vida mais saudável num ambiente calmo e seguro”, sustenta.

Para futuro, Dina Duarte deixa duas recomendações. “Sendo positivo que queira atrair pessoas para o interior, tem, antes, de garantir que consegue fixar as que cá estão. Voltámos a ter imensos emigrantes”, alerta em primeiro lugar. E logo remata com outro repto: “O que o Governo terá prever e acautelar é que quando os níveis das águas subirem as pessoas vão ter de voltar para o interior e para as terras altas. Vamos ter de nos preparar.”

 

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